quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A arte de se relacionar
se passa pelos olhos que veem
o que os gestos consentem
tácitos e benditos
sejam os explícitos
os que podem ser ditos
os que não se calam
os precipícios e os precipitados
discursos rios
sejam as fronteiras
nós os dois
despencando.

A arte de se relacionar relaciona-se
casualmente e despistada
com as gentes interiores
que dão muitos palpites imaginam
e fingem que esquecem
tantas as coisas as gentes interiores
ficam pensando.

A arte de se relacionar inclui
todos os assuntos
poderem se relacionar
uns aos outros ligados
existem pronomes inextinguíveis
respirações imprevistas colocações
vírgulas e pontos
a exclamação a interrogação
a vírgula de novo; e o fundamental
travessão, com o qual você pode
até falar neste poema
vem aqui, vou te mostrar
assim:

—                 .

O que você fala neste poema
eu não sei e se eu soubesse
também não falava assim
tão alto pra toda gente — ouve
que só me interesso pelo que é seu
é verdade eu mesma não sei
se sou ambidestra
ou se isto é ser só
mais uma pessoa torta
na arte de me relacionar
sou intransferível
insensível e coxa
uma flor da moita
o escuro zumbido
a contramão um retrocesso
serei eu desvio que destino
do acaso esta intempérie
chuva se fazendo na curva
da anca um arrepio que avança
na coluna, a cintura, tua cabeça.

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